Túnel desaba no maior presídio do RN; detentos dizem que há soterrados

Túnel descoberto em Alcaçuz neste final de semana desmorou, causando a morte de dois detentos (Foto: GOE/Grupo de Operações Especiais)

Um túnel escavado para fuga desmoronou na manhã desta segunda-feira (9) na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, maior unidade prisional do Rio Grande do Norte. Equipes do Corpo de Bombeiros trabalham na busca de corpos. Segundo os próprios detentos, pelo menos dois presos estariam encobertos pela terra que desmoronou sob o piso do pavilhão 2. 

Segundo a Coordenadoria de Administração Penitenciária do estado, o túnel é o mesmo que foi descoberto no sábado (7), fato que causou revolta a dos apenados. Colchões foram incendiados e grades arrancadas das celas. Amotinados, os internos chegaram a jogar pedras nos policiais militares do Batalhão de Choque, que recuaram.

Com a notícia de que o BPChoque não havia conseguido controlar os presos em Alcaçuz, os ânimos no Presídio Provisório Raimundo Nonato, que fica na Zona Norte de Natal, também se exaltaram e os detentos começaram a queimar colchões.

Alcaçuz fica em Nísia Floresta, município da Grande Natal. Com capacidade para 640 presos, possui atualmente pouco mais de 1 mil apenados. Duzentos somente no pavilhão 2. O sistema penitenciário do Rio Grande do Norte possui atualmente 8.000 presos para 3.700 vagas. Em razão da superlotação, das 33 unidades prisionais, 12 foram interditadas pela Justiça e não podem receber novos detentos. A lista inclui a Penitenciária Estadual de Alcaçuz.

Tanto em Alcaçuz quanto no Raimundo Nonato os ânimos só foram contidos na manhã do domingo (8), após intervenção do Grupo de Operações Especiais (GOE) e do Grupo de Escolta Penal, ambos pertencentes à Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc).

Com a retomada do controle nos presídios, o governo do estado soltou uma nota na qual diz que “providências para reparos dos setores depredados, tanto em Alcaçuz quanto no Raimundo Nonato, já foram tomadas. Medidas como colocação de grades, recuperação de paredes e limpeza”. Apesar dos prejuízos, o governo enfatizou que não houve fuga ou registro de feridos durante as ocorrências.

Ainda de acordo com a nota, o governo afirma que “está empenhado em restabelecer a ordem no Sistema Carcerário do Rio Grande do Norte, com o apoio da Secretaria de Segurança, para minimizar os conflitos e manter o controle nas unidades prisionais do estado”.
No Presídio Provisório Raimundo Nonato, em Natal, os presos também causaram muitos estragos (Foto: Grupo de Escolta Penal/GEP)

Calamidade pública
O sistema penitenciário potiguar entrou em calamidade pública no dia 17 de março, logo após o fim de uma onda de rebeliões que atingiu pelo menos 14 das 33 unidades prisionais do estado. O decreto, renovado em setembro, tem validade até março de 2016.
Penitenciária de Alcaçuz foi uma das
mais danificadas durante as rebeliões de março
(Foto: Divulgação/Sejuc-RN)

Além disso, também passa por um momento crítico com relação ao controle das unidades, hoje comandadas por facções criminosas que vêm se digladiando. Este ano, 22 detentos foram assassinados ou encontrados mortos em condições suspeitas e um adolescente morreu ao ser baleado em uma unidade para cumprimento de medida socioeducativa durante uma tentativa de resgate. Os números são da Coordenadoria de Análises Criminais da Secretaria Estadual de Segurança Pública.

De acordo com a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc), já foram gastos mais de R$ 5,6 milhões nas reformas das unidades depredadas. A secretaria reconhece que o sistema penitenciário do RN é ultrapassado e precisa de uma modernização com mais eficiência e tecnologia nos processos.