Eleito com apoio do DEM e PSDB, prefeito de Apodi é o primeiro filiado do PCdoB a assumir uma prefeitura no RN

O radicalismo peculiar do movimento comunista passa longe do único prefeito comuna eleito no Rio Grande do Norte. É com um comportamento sereno que Flaviano Monteiro, do Partido Comunista do Brasil (PC do B), pretende administrar o município do Apodi. Ele é o primeiro prefeito eleito em 33 anos de atuação da legenda no estado, mas a agitação da esquerda não será a marca de sua gestão.

Flaviano Monteiro diz que não dá mais para manter esse perfil no contexto do século XXI. “Montamos nossa base em uma visão comunista, mas sem o sectário radical. Quero fazer um mandato popular pautado no bem-estar social”, relata. O prefeito quer trabalhar pela qualidade de vida da população apodiense. “Esse é o comunismo que pratico. Infelizmente, pela baixa instrução adquirida, a população que mais precisa não está preocupada com ideologias, mas com ações práticas que venham a melhorar sua qualidade de vida”, assevera.

Ele foi eleito com 56% dos votos apoiado pelo PSDB, PDT, PSD e PSB, em uma campanha com aspectos que parecem distanciá-lo do Manifesto do Partido Comunista, difundido por Karl Marx e Friedrich Engels marcado pela briga de classes.

Na campanha, o prefeito recebeu o apoio do deputado líder do governo Rosalba, Getúlio Rego (DEM), cujo partido defende a propriedade privada e a liberdade econômica. Getúlio não apoiou a candidatura dos democratas em Apodi e preferiu os comunistas sendo aceito pelo grupo de Monteiro. “Sou moderado. Reconheço que o ex-prefeito do DEM em Pau dos Ferros terminou seu segundo mandato aplaudido pelo povo e elegeu seu sucessor. Nesse contexto do século XXI não se deve rejeitar apoio, desde que você não perca a sua linha”, argumenta.

O filho de Getúlio Rego, Leonardo Rego (DEM) é o ex-prefeito do município vizinho, Pau dos Ferros. Flaviano continua tendo apoio do líder da governadora, mas faz oposição a ela, enquanto defende o governo federal do PT.

Mas a linha do prefeito apodiense apresenta traços da ideologia comunista, assimilando a igualdade e justiça social entre os homens, e fugindo da abolição da propriedade privada e do fim da luta de classes, já que o seu vice, José Maria da Silva (PSD), é empresário na cidade.

O prefeito de Apodi está no PCdoB há seis anos, mas diz que apesar de sempre ter simpatizado com os movimentos de esquerda, nunca assumiu uma postura radical. Sua visão comunista, que considera moderna, acompanha a redemocratização política e a era Lula, que deixou de ser radical, mas executou os programas sociais que, segundo avalia, deram certo.

“Devemos ver o que deu certo nas gestões populares, seja no PT, no DEM, ou qualquer outro. Todos dizem que querem melhorar a qualidade de vida da população, mas quem realmente o fez?”, questiona.

Flaviano Monteiro tem 40 anos e já havia tentado a prefeitura da cidade em 2008, mas perdeu com uma diferença de 543 votos. Em 2010 foi candidato a deputado estadual e ficou na sugunda suplência com 16 mil votos.

“Só a educação liberta”

Segundo relata o prefeito, a cidade de Apodi tem cerca de 40 mil habitantes, metade na zona rural, e sofre com deficiências em todas as áreas. Neste sentido, suas primeiras ações estão voltadas para a reestruturação da saúde e da educação básica com a recuperação da rede física e de atendimento. Os estudantes de ensino superior também são uma preocupação.

O prefeito sancionou a lei que torna o município responsável pelo transporte escolar de estudantes apodienses que viajam às cidades de Mossoró e Caraúbas, para cursar Escolas de nível Superior e Técnico. O investimento é de R$ 40 mil por mês e beneficia cerca de 600 alunos do ensino superior da cidade. “Evita que muitos deixem de se capacitar por não terem R$ 70 por mês para pagar o transporte. Eu entendo que só a educação liberta”, declara o prefeito que é professor do Ensino Médio da cidade.

Apesar do potencial na agricultura, piscicultura, petróleo (gás natural) e turismo, o prefeito comunista terá um grande desafio para melhorar a infraestrutura da cidade. Para se ter uma ideia, nem a zona urbana de Apodi é saneada. “Saneamento é nossa meta. Também planejamos instalar um polo industrial”, diz.

Outro atraso, segundo conta, está na Habitação. Ainda há famílias morando em mais 200 casas de taipas na cidade e os planos são de erradicar esse tipo de moradia no município com a oferta de casas populares aos moradores de baixa renda.

Ele alega que o orçamento de R$ 48 milhões previstos para 2013 não será suficiente para realizar obras e solucionar os problemas, por isso, como aliado do Governo federal, acredita que poderá firmar parcerias em projetos. “Eu quero ser lembrado como o prefeito que enfrentou os problemas de Apodi e melhorou a vida da população”, enfatiza.

Fonte e foto: Novo Jornal