Mais de 20 americanas visitaram líder de seita preso em praia do RN, diz PF

Victor Arden Barnard, de 53 anos, foi preso na praia
da Pipa, no litoral Sul do RN (Foto: Daniel Costa/G1)

De 2010 até o início deste ano, mais de 20 seguidores, a maioria mulheres, saíram dos Estados Unidos para visitar o americano e líder religioso Victor Arden Barnard, de 53 anos, no  Rio Grande do Norte. A informação foi revelada ao G1 pelo superintendente da Polícia Federal no RN, Kandy Takahashi. Segundo o delegado, duas pessoas estavam com a chegada prevista para esta última segunda-feira, dia 2. “Não sei se chegaram a desembarcar aqui no estado, mas se aconteceu certamente não o encontraram”, afirmou. 

Barnard foi preso na noite da última sexta-feira (dia 27 de fevereiro) em um condomínio de alto padrão na praia da Pipa. Apontado com um dos 15 homens mais procurados pela agência U.S. Marshal, organização policial americana responsável pela busca e captura de foragidos internacionais, e também pela Organização Internacional de Polícia Criminal, mundialmente conhecida como Interpol, ele responde a 59 acusações de abusos sexuais contra crianças e adolescentes, crimes que teriam ocorrido entre os anos de 2000 e 2012 no estado americano de Minnesota, onde fundou o acampamento religioso River Road Fellowship. 

“Em 2010 ele procurou a PF para renovar o visto de permanência dele aqui no Brasil. Naquele ano ele veio ao Rio Grande do Norte na condição de turista”, disse Takahashi. "Apesar das visitas dos seguidores, não há suspeita ou evidências do americano ter agido ou atuado como líder religioso no Brasil”, acrescentou.

Repercussão
A prisão de Barnard repercutiu em alguns dos mais conceituados veículos de comunicação dos Estados Unidos. A versão on line do News York Times ressaltou que Barnard, preso na superintendência da Polícia Federal, em Natal, aguarda a extradição para enfrentar as acusações nos EUA. O mesmo foi publicado na página do Whashington Post. Ambos também trazem uma declaração dada ao Minneapolis Star Tribune por uma das seguidoras do acusado. "Ele arruinou mais vidas. Esse homem é o diabo encarnado", disse Cindi Currie.
O mandado de prisão dele é preventivo, ou seja, não há um prazo determinado para que ele seja transferido para outra unidade ou tenha que deixar o país"
Kandy Takahashi,
superintendente da Polícia Federal no RN

Extradição
Victor Barnard continua detido na sede da superintendência da PF em Natal. O superintendente contou que ele não fala português, e que não aparenta nenhum sinal de nervosismo. "Sem alterações desde que foi preso. Ele já constituiu advogado e aguarda que o Supremo Tribunal Federal se pronuncie sobre a extradição. O mandado de prisão dele é preventivo, ou seja, não há um prazo determinado para que ele seja transferido para outra unidade ou tenha que deixar o país. Agora é uma questão burocrática”, explicou Kandy Takahashi.

Visita
O superintendente da PF disse ainda que a única pessoa a visitar o americano até o momento foi a brasileira Maria Cristina Cajazeiras Liberato. A mulher, que tem 33 anos e é natural de Sobral, no Ceará, foi detida juntamente com o americano. “Ela foi autuada por favorecimento pessoal, já que era ela quem bancava a estadia do acusado aqui no Brasil. Mas, como é um crime de baixo potencial ofensivo, ela assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência e foi liberada para responder ao processo em liberdade”, acrescentou.

"A Maria Cristina trouxe comida para o Barnard. Mas não pôde entregar porque aqui não aceitamos nada que venha de fora. Mas permitimos que ela deixasse um livro com ele. Não é uma bíblia. Acho que é um livro sobre autoajuda, algo dessa natureza", ressaltou.

Takahashi confirmou também que Maria Cristina já havia residido com Barnard no estado americano de Minnesota, onde ele fundou a seita, e contou que a casa no condomínio na praia da Pipa, onde o casal foi encontrado, está no nome dela.
Americano foi detido dentro de um condomínio
(Foto: Daniel Costa/G1)

A prisão
A prisão de Barnard, de acordo com o superintendente da Polícia Federal no RN, aconteceu depois que a polícia percebeu que havia uma rota de viagem dos EUA para o Rio Grande do Norte, especialmente de pessoas que alegavam estar no Brasil para fazer turismo na praia da Pipa. "O americano entrou no Brasil legalmente. Isso precisa ficar bem claro. Somente em 2014, quando um mandado de prisão foi expedido, foi que ele passou a ser procurado. De 2010 até ele ser preso, ele chegou a renovar o visto dele uma vez, quando ele foi ao Uruguai e voltou ao Rio Grande do Norte, e uma segunda vez. Agora, quando foi preso, o visto dele já estava vencido, isto é, ele já estava aqui como um clandestino", ressaltou Takahashi.

O tenente da Polícia Militar Daniel Costa, que participou da prisão do americano, contou aoG1 que o estrangeiro foi encontrado por volta das 21h em uma casa dentro de um condomínio na paradisíaca praia da Pipa, que fica no município de Tibau do Sul. Escrituras, documentos, agendas, computadores, pendrives, aparelhos e chips celulares foram apreendidos e levados para a sede da Polícia Federal, em Natal.

Ainda segundo o tenente, as informações sobre a presença do americano na Pipa foram repassadas pela Polícia Federal. "Depois disso, demos início a uma operação para prendê-lo. Contamos com o efetivo da PM de Tibau do Sul e da Pipa", acrescentou.

'Jesus na carne'
De acordo com a imprensa americana, Victor Barnard começou a ser investigado em 2012 no estado americano de Minnesota, quando duas de suas seguidoras resolveram denunciá-lo. Uma delas alegou que vinha sofrendo abusos sexuais desde os 12 anos. Outra, desde os 13 anos, quando ela e a família se juntaram a uma igreja chamada 'River Road Fellowship'. Autoridades disseram que a congregação é um desdobramento do 'The Way International', grupo que se autodenomina cristão.

Em julho de 2000, Barnard criou um grupo de jovens meninas chamado de "Maidens" ou "Alamote", segundo a denúncia. O grupo, que tinha 50 membros, pregava que as meninas deveriam permanecer virgens e nunca se casar.

Na época, ainda de acordo com a denúncia, Barnard pregava que ele próprio representava “Jesus na carne”, e que para ele era normal fazer sexo com suas seguidoras, uma vez que “Cristo tinha tido relações com Maria Madalena e outras mulheres que o seguiam, assim como o rei Salomão havia dormido com muitas concubinas”.

Em 2011, o grupo liderado por Barnard se mudou de Minessota para o estado de Washington. Em novembro de 2012, após ser condenado, a polícia foi atrás de Barnard, mas ele não foi localizado.