Relatório sobre morte de cearense baleado pela PM no RN sai em 20 dias

José Fernandes Castelo foi morto após furar barreira policial em Mossoró (Foto:Reprodução/Facebook e Gilli Maia
Reprodução/Facebook e Gilli Maia
Demorou aproximadamente duas horas e meia a reconstituição realizada na noite desta terça-feira (28) da morte do universitário cearense José Fernandes Castelo, de 19 anos, atingido nas costas por um tiro efetuado por policiais militares após ele ter furado uma barreira de fiscalização de trânsito na noite de 13 de abril em Mossoró, na região Oeste do Rio Grande do Norte. Na fuga, segundo consta em boletim, três pessoas foram atropeladas, mas se recuperam bem. O Instituto Técnico-Cientíco de Polícia (Itep) tem agora de 10 a 20 dias para apresentar um relatório conclusivo ao delegado Roberto Moura, que preside o inquérito. O perito criminal Jader Viana, do Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep), contou ao G1 que, com a simulação, já seria possível determinar quem foi o policial responsável pelo disparo que matou o jovem universitário, mas o resultado só será apresentado quando o relatório da reconstituição for concluído, o que só deve acontecer ao longo de no máximo 20 dias, “ou assim que os exames de balística, nas vestes da vítima e no carro do rapaz ficarem prontos”, acrescentou. Apesar de aguardar o resultado dos laudos técnicos para no máximo três semanas, o delegado ressaltou que ele ainda poderá pedir, depois deste tempo, prorrogação à Justiça e o inquérito se prolongar por mais um mês. Contudo, tudo dependerá da perícia. "Até o momento não vejo necessidade de novas diligências, mas vamos esperar pra ver", ponderou. A reconstituição foi requisitada pela Polícia Civil, que apura a atitude de seis de dez policiais militares que participaram da ação. Os seis foram afastados das ruas por determinação do comando geral da PM no estado. Todos se recusaram a participar da simulação. No lugar deles, do cearense
 e de um motociclista atropelado durante a fuga, atuaram voluntários. “Foram convidados policiais civis voluntários. Estes simularam a atitude tomada por cada um dos envolvidos na ocorrência, desde o momento em que o cearense furou a barreira até a hora em que levou o tiro e foi socorrido ao hospital”, explicou Viana. Familiares de Castelo, que são da cidade de Tauá, no Ceará, estiveram em Mossoró e acompanharam de perto o trabalho da polícia. Os pais do rapaz levaram uma faixa e exigiram justiça. O Ministério Público também acompanha o caso.

A reconstituição 
A reconstituição da ação policial que culminou com a morte de José Fernandes Castelo foi iniciada por volta das 20h desta terça-feira (28). Segundo o delegado Roberto Moura, que conduz o inquérito, a ação buscou reproduzir o mesmo cenário da ocorrência registrada na noite de 13 de abril, “respeitando inclusive o mesmo horário em que o fato foi registrado em boletim”, afirmou. A ação também foi realizada, ainda de acordo com o delegado, percorrendo os mesmos lugares por onde o jovem passou, desde o momento em que furou a barreira até o local onde foi baleado pelos PMs. Tudo começou na avenida Leste-Oeste, de onde partiu a perseguição. Em seguida, a reprodução simulada passou por várias ruas do Centro, nas proximidades dos hospitais, onde houve o atropelamento de um motociclista, chegou ao bairro Boa Vista, onde um dos pneus do carro de Castelo foi furado por um tiro, até chegar ao bairro Nova Betânia, local o veiculo recebeu novos disparos e o rapaz acabou sendo atingido. Ao G1, o perito explicou que, apesar de no boletim haver o registro de três pessoas atropeladas por Castelo, só houve constatação de materialidade de um ferido, um rapaz que é motociclista e sofreu fratura na perna. “Por isso a reconstituição foi feita apenas com uma vítima de atropelamento”, ressaltou.
Ainda de acordo com Viana, a reconstituição da perícia percorreu os mesmos 6,8 quilômetros que Castelo transitou a bordo do Honda Civic quando fugiu após furar a barreira. No relatório da PM, este trajeto foi feito em menos de 10 minutos. “Em certos trechos, o veiculo desenvolveu uma velocidade de 100 quilômetros por hora”, diz o documento. “Só parando o carro depois de ter um dos pneus furados”, acrescenta. A reconstituição, ainda de acordo com o perito, também simulou os disparos feitos contra o automóvel – oito ao todo, sendo que um deles atingiu o pneu traseiro direito e os demais a parte traseira da lataria. Foi um destes disparos, inclusive, o que matou Castelo. A bala pegou na lanterna traseira direita, passou pelo banco, transfixou o assento do motorista e acertou as costas do rapaz.

Entenda o caso 

O universitário José Fernandes Castelo, de 19 anos, natural de Tauá, cursava Engenharia Civil no campus da UNP de Mossoró desde o início do ano. Ele morreu na noite de 13 de abril após levar um tiro da Polícia Militar no município de Mossoró, na região Oeste do Rio Grande do Norte. Segundo informações do capitão Rabelo, do 12º Batalhão da PM, o rapaz conduzia um Honda Civic, com placas de Fortaleza, quando furou uma barreira policial e, ao ser perseguido, atropelou três pessoas, deixando duas delas (uma idosa e um motociclista) em estado grave. Ainda de acordo com informações da PM, familiares do rapaz teriam confirmado que ele havia bebido. Segundo perícia preliminar do Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep), foi encontrado um copo com bebida alcoólica dentro do veículo. O tiro que atingiu o rapaz, inclusive, perfurou a lanterna traseira do lado direito, atravessou o banco do motorista e atingiu as costas de Castelo. A perseguição, conforme registrado pela PM de Mossoró, aconteceu a partir da avenida Leste-Oeste, no Centro da cidade. Consta que o jovem cearense ainda foi perseguido por guarnições da Departamento de Polícia Rodoviária Estadual (DPRE) por várias ruas do bairro Boa Vista, só parando o veículo ao ser alvejado no bairro Nova Betânia.


G1

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