Morre o músico Magro Waghabi, do MPB4

Cala-se uma das vozes do lendário grupo MPB4. O músico Antônio José Waghabi Filho, conhecido como Magro, morreu aos 68 anos, na manhã desta quarta-feira (8), em São Paulo, onde estava internado.
Nascido em Itaocara, na Região Noroeste do Rio de Janeiro, em 14 de novembro de 1943, o compositor, arranjador e vocalista integrava, ao lado de Rui, Aquiles e Miltinho, o principal grupo vocal masculino da MPB.
De acordo com informações do G1, o velório será na Beneficência Portuguesa de São Paulo, no bairro de Paraíso, na Zona Sul da capital paulista, pela manhã desta quarta. O corpo será cremado nesta quinta (9), no Cemitério da Vila Alpina, na Zona Leste.
Magro estava internado no CTI do Hospital Santa Catarina, desde a última sexta-feira (3), devido a complicações de um câncer na próstata descoberto há 10 anos, e já diagnosticado com metástase.
Há exatos três meses, o grupo apresentou em Natal o show "MPB4 em recital" , remetendo ao s primeiros anos de carreira, quando o quarteto se apresentava sozinho, sem a banda que passou a acompanha-los em shows mais recentes. Esse formato "de antigamente" daria lugar para o novo trabalho do MPB 4 , o seu Cd de boleros, intitulado "Contigo Aprendi", que teve direito a release de luxo, escrito por Caetano Veloso. Confira:
"O MPB4 tomou esse nome quando a sigla estava ainda em vias de ganhar a acepção que comumente lhe damos hoje. É uma definição de não-gênero (ou de quase-gênero) que engloba a produção de música popular feita no Brasil por autores e intérpretes majoritariamente oriundos da classe média letrada. O termo, de certa forma, se opunha, em seus começos, às formas importadas do pop internacional, às versões de música estrangeira e à criação popularesca de aspecto fácil ou vulgar.
Com o passar do tempo, esse critério de discriminação foi mudando de forma e hoje, como diz uma locutora da rádio MPB FM, "MPB é tudo". Mas não é exatamente uma expressão que abarque o que indica as iniciais que a formam: não significa, para quem a pronuncia ou a ouve, "música popular brasileira". Assim, você pode ouvir alguém perguntar se alguém é "axé ou MPB", "sertanejo ou MPB", mesmo "popular ou MPB".
O quarteto de Niterói, que ajudou a forjar o conceito, nunca se restringiu a ele. Na verdade, criadores não cabem nem mesmo nos rótulos que se autoimpõem. Em muitos momentos da minha vida, amei o termo MPB por causa do conjunto, de sua história, de sua integridade, de sua rica despretensão. Se tomássemos os termos "música", "popular" e "brasileira" e nos perguntássemos sobre eles à audição do quarteto, sentiríamos que cada termo lhe é perfeitamente adequado.
Desde a sua fundação (e atravessando os anos de colaboração com Chico Buarque) esse conjunto tem sido a voz do Brasil. Sem procurar emular as harmonizações do tipo americano dos grupos vocais dos anos 1940/50, eles criaram um estilo flexível e relaxado, atributos tão tipicamente brasileiros.
À medida que o próprio termo que eles tomaram para apelido foi se abrindo para searas variadas, eles foram, sem alarde, aprofundando o olhar sobre nossa tradição viva (não nossa tradição oficializada ou fossilizada). Ouvi-los cantar boleros em versões para o português é reconhecer a profundidade com que a canção americana de língua espanhola entrou na alma das pessoas da nossa geração. Quem sai homenageada é a tradição de versões de boleros de que a verdadeira MPB pode se orgulhar.
O bom gosto dos arranjos (onde o violão brasileiro aparece com sua delicadeza, sem deixar de honrar a garra de violões à Los Panchos) comprova a sinceridade e o carinho com que essas canções foram abordadas. São os caras de Niterói dizendo a cada um dos artistas que os ensinaram a fruir as belezas que vinham do México ou de Cuba, adaptando-as à língua portuguesa. Sinto ternura e orgulho por participar desse projeto tão rico, tanto musical quanto historicamente." (Caetano Veloso).

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