O homem ferido é o PM Yang Caio de Oliveira. Quem o leva para o hospital é o PM Eliseu Cintra, que entrou para a polícia por influência de Caio. “Ele me ajudava, ia lá em casa com as apostilas, fazia de tudo para eu entrar na polícia”, diz Cintra. Foi ele quem atirou em Caio.
O soldado Cintra concordou em dar essa entrevista com a condição de não mostrar o rosto.
Ele conta ao Fantástico como esse terrível engano aconteceu: “Quando o portão terminou de abrir, engatei a marcha ré, fui saindo. As minhas filhas estavam brincando na frente da minha casa. No que eu estou saindo, o motoqueiro entrou. Aí foi quando aconteceu a tragédia. O menino falou ‘Perdeu polícia, perdeu’, Minha esposa comigo no carro e eu reagi”.
Cintra não podia imaginar, mas o motoqueiro era o amigo e vizinho caIo, de capacete, sem o uniforme militar: “Aí foi automático, eu dei o disparo. Ele desceu da moto e correu para trás do meu veículo. Quando ele passou meu veículo e veio ao lado da minha esposa, já do lado de cá, efetuei mais um disparo, onde atingiu a virilha do elemento e ele rodou e caiu. Aí, foi a hora que eu fui em direção a ele para confirmar a situação. Ele conseguiu tirar o capacete e se identificou: ‘Sou eu, sou eu, Caio. Sou eu, o Caio’. Eu desesperei! Ele falou ‘perdão velho, eu estava brincando com você’.”
A causa da tragédia, segundo Cintra, tinha sido apenas um trote do amigo Caio. Policiais que faziam uma ronda no bairro foram chamados. O cabo da PM Wagno Bras Marques conta como foi: “Aí, o soldado Cintra acompanhou o socorro até o hospital regional”, Caio levou um tiro no abdome e outro na virilha. Chegou com vida ao hospital, mas teve uma parada cardíaca durante a cirurgia e morreu. Cintra está preso no batalhão onde trabalha e será julgado pela Justiça Militar.
Duas horas antes de atirar contra o próprio amigo, o soldado Cintra estava no Fórum de Rondonópolis, prestando depoimento sobre o caso onde matou um suspeito em uma operação policial. Durante o depoimento ele ficou frente a frente com a mulher e amigos do suposto criminoso.
O caso foi em dezembro. O comandante do batalhão acha que, por causa disso, Cintra tinha medo de uma vingança. E por isso reagiu sem pensar quando o amigo que se fingia de bandido parou com a moto ao lado do seu carro. “Eu senti aquele clima ali no fórum e pensei: ‘Esses caras vão tentar qualquer coisa’, justifica Cintra.
O amigo Caio tinha 35 anos, e uma filha de sete. “Amava, amava, amava. Pegava a filha, levava para passear, nunca vi daquele jeito”, conta a ex-mulher, Daiane Rodrigues Neto Farias.
“Isso foi uma fatalidade. Eles eram muito amigos, muito amigos mesmo. Eu também sinto muito pelo Cintra”, lamenta o soldado da PM Marcos André Marques da Silva.
“E eu tentando socorrer ele, estancar o sangue. E ele conversando falou: ‘Parceiro, está doendo, parceiro’. E eu dizia: ‘Segura, cara. Aguenta aí, pelo amor de Deus’”, lembra Cintra.
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